Reflexões na “largada”
para a regionalização de Cabo Verde, de Ricardino Neves
Com a apresentação no dia 13 de Janeiro de 2107 pelo
Dr. Luís Tavares na Câmara Municipal de S.Vicente da proposta de lei da
Regionalização pode-se considerar como dado o sinal de partida do debate
nacional que poderá desembocar na almejada Regionalização de Cabo Verde.
Tal acto não mereceu a atenção da maior parte dos principais
órgãos de comunicação social cabo-verdianos que o assunto justifica,
limitando-se a uma notícia no Jornal da TCV.
A 20 de Janeiro de 2017 no mesmo local, o Dr. Olavo Correia,
sob o tema custos da Regionalização, expos a visão do Governo/MPD sobre o
assunto avançando um valor estimado dos custos que poderá representar a
adopção da Regionalização.
A comunicação social esteve mais “atenta”, noticiando
em três jornais on-line e na TCV o acontecimento. No Jornal de Domingo da TCV a
22 de Dezembro o assunto Regionalização é abordado, ainda que de forma
ligeira.
O tema Regionalização foi ao longo dos tempos um assunto
tratado quase sempre com reservas por parte da comunicação social
cabo-verdiana, quase toda sediada na Cidade da Praia, centro do Poder que
“supostamente” o processo de Regionalização contesta.
Se em relação aos meios de comunicação social privada
não é exigível papel particular o mesmo não se passa em relação à RTC, que tem
funções de serviço público.
A RTC, sendo a nossa Rádio e Televisão Pública, bem que
poderia fazer um esforço para que esse tema pudesse ser pluralmente discutido, com abordagens
diferenciadas do assunto, nomeadamente por parte de vozes que defendem a
Regionalização.
Se ninguém quer impor uma determinada visão sobre o assunto,
lógico seria que a RTC desse vez e voz aqueles que também têm os seus argumentos
para defender a Regionalização possibilitando à opinião pública caboverdeana
uma reflexão serena sobre o tema.
É que para a discussão de qualquer assunto, informação
objectiva é necessária para possibilitar um juízo adequado por parte de cada
cidadão deste país. E a necessidade dessa informação é tanto mais necessária
quanto é facto que sobre o tema Descentralização / Regionalização passaram-se
anos e anos de desinformação contínua.
Sendo certo que, por mais espessas que sejam, o
destino das cortinas de fumo é acaba- rem por se dissipar, importante e
necessário é que haja abordagem esclarecedora dos prós e dos contra inerente a
qualquer dossier, qualquer que ele seja.
O MPD, partido vencedor das eleições em Março de 2016
assumiu a Regionalização no seu Programa Eleitoral e depois, com a assunção
das funções governativas, plasmou bem claro no seu Programa de Governo da IX
Legislatura no ponto 3.2.3 UM NOVO MODELO DE ESTADO - UM ESTADO INTELIGENTE,
PARCEIRO E FEDERADOR indicou AVANÇAR COM A REGIONALIZAÇÃO.
Nesse Programa se diz que o Governo procurará
um consenso alargado com as demais forças políticas, com as instituições da
sociedade civil e com as associações defensoras da regionalização.
Sendo este o quadro definido penso que todos os cabo-verdianos
nele se deverão inserir, de modo consciente e participativo no processo,
visando a obtenção duma solução a mais consensual possível, cientes de que é
Cabo Verde que sairá a ganhar.
2. O papel da sociedade civil
A única associação defensora da Regionalização é o
Grupo Pró-Regionalização de Cabo Verde, oficializada em Abril de 2014 e sediada
no Mindelo. Ela não se pronunciou até agora, parecendo estar na expectativa
daquilo que o Governo vai fazer nesta matéria.
Ficar a reboque do que o poder determina parece ser
sina corrente da sociedade civil cabo-verdiana, numa clara demonstração da
fragilidade da mesma.
Mas a Regionalização é um processo de aprofundamento da
democracia, com o poder mais próximo das populações e que por isso mesmo exige
a sua participação.
Descentralizar, Democratizar e Desenvolver bem podem
ser considerados os três pilares que constituem o tripé em que assenta a
Regionalização.
O debate terá que se fazer para além dos partidos uma
vez que estes não esgotam a sociedade cabo-verdiana.
3. A regionalizaçao como forma de organizar o estado
A Regionalização é uma reforma do Estado na procura
deste servir melhor os interesses do povo de Cabo Verde.
Um dos consensos quando se fala da necessidade de
Regionalização é a de que a actual estrutura de Estado centralizado que temos
não serve os interesses de Cabo Verde e que é preciso mudar para melhor.
Se se perguntar em referendo no Cabo Verde de hoje
quem está a favor desta centralização arrisco dizer que a esmagadora maioria
está contra. Até na Praia, cidade Capital, se reclama desse Estado.
Os detractores da Regionalização nunca levantaram a
voz contra o continuado crescimento da estrutura do Estado em Cabo Verde.
Reflexões na “largada”
para a regionalização de Cabo Verde
Muito menos dos custos que ela representa, pela sua
dimensão e pela sua ineficácia, nomeadamente ao produzir um modelo de
desenvolvimento desequilibrado (as tão faladas assimetrias regionais) com um
centro super povoado e acumulando riqueza e ilhas em desertificação progressiva
e acumulando pobreza.
Quando se anunciou o actual governo de Cabo Verde
reduzido a 12 membros ouviram-se vozes criticarem tal opção,duvidando da sua
operacionalidade porque supostamente pequeno.
São muitas dessas vozes, para as quais o tamanho do Estado
não foi nunca preocupação que, quanto toca a Regionalização, levantam o coro
do Estado Gordo num exercício que peca por pouca coerência.
A Regionalização será tão-somente uma infraestrutura
supramunicipal, prevista na actual Constituição, a ser criada. Para esta
estrutura serão transferidas competências, recursos materiais, financeiros e
humanos da actual estrutura do Estado Central.
Resulta evidente que estamos perante uma nova
configuração do Estado e tão sòmente isso. Não se trata de criação de estruturas
que exigem mais meios. São os meios existen tes a serem utilizados de forma
diferente, mais racionalizada, descentralizada.
Também julgo que se pode considerar consensual que a
estrutura Região não invadirá competências dos Municípios existentes.
4. O “custo” da regionalizaçao
Um dos grandes “argumentos” apresentados pelos críticos
da Regionalização é o custo que esta mudança de estrutura do Estado
representará, ainda que esse argumento é até agora abstracto porque feito sem
base concreta, pela ausência de modelo definitivo da Regionalização a ser
adoptada.
A Regionalização, tratando-se duma reforma do Estado,
representará naturalmente algum custo adicional, mas nada que não se possa
suportar. Mas bem-feita, o custo será o mínimo possível.
Sabendo como todos nós sabemos que tudo tem um custo,
à Regionalização, parafraseando outrem, bem se pode aplicar o princípio
sacrossanto de que “A DEMOCRACIA CUSTA “.
E quem fala dos custos deve falar também dos benefícios.
Os ganhos que a Regionalização irá proporcionar compensam amplamente os custos
complementares que possa vir a representar.
O argumento de que não há dinheiro e que não se vai
pedir ajuda à comunidade inter- nacional resulta falaciosa porque, se necessário
for, julgo que bem podemos continuar a contar com essa disponibilidade.
Se no nosso percurso até agora sempre
pudemos contar com ela, natural supor que neste passo rumo a um novo patamar
de democracia, num novo modelo potenciador do desenvolvimento económico e
social destas Ilhas, teremos apoio, se necessário for.
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