sábado, 29 de junho de 2013


HOMENAGEM  EM ROTERDAO AO CLARINETISTA DJOSINHA DE BERNARDA
 
 « Oh Rei! Não dê o visto para a Pasargada àquele que não pôs as mãos na construção do Templo. »
                                                                         (Osvaldo Alcântara, heterónimo poético de Baltasar Lopes)
 

Djosinha de Bernarda, menino do Monte Sossego, ali nasceu a 9 de Maio de 1940. Naquele tempo  o Monte Sossego estava separado da cidade por uma enorme chã, sem iluminação, com dois cemitérios  (inglês e americano) e um “esteirado” para criket no meio da chã. Uma grande parte da história de São Vicente perdeu-se com a eliminação dos dois cemitérios, onde foram edificadas casas sobre os sepulcros  de  figuras importantes da construção económica e cultural da  cidade do Mindelo. O medo da noite e dos gongons também deixou as suas estórias no caminho de Monte Sossego,  lembradas nas coladeras do Manuel d’Novas e Frank Cavaquim.  Monte Sossego teve também excelentes atletas que marcaram o desporto Mindelense, mas também cantores e compositores de mornas que davam um colorido musical aos fins de semana. Uma das mais lindas mornas dedicada a uma menininha de Monte Sossego, interpretada por Bana, conheceu o mundo. Trata-se da morna Lutchinha da autoria de Albano de Wilson, actualmente a residir  no Rio de Janeiro, morna essa dedicada à sua mulher. Havia muita dignidade no relacionamento das pessoas e uma certa nobreza herdada da convicência diária  com os ingleses no desporto e nas companhias de carvão, que também formaram grandes quadros técnicos em sectores de máquinas e outros ofícios. Este é o retrato de Monte Sossego daquele tempo, antes que alguns apostólos da nossa emigração descobrissem o «caminho marítimo» para Holanda, onde Djosinha de Bernarda viria a desempenhar um papel importante. 
 


 
 
 
 
 
Órfão aos seis anos de idade, a madrinha de Djosinha, Nha Bernarda, conhecida figura do Pelourinho de Verdura, acolheu o afilhado, a quem deu uma extremosa educação e tratou com muita amizade e carinho maternais. A função de compadre ou comadre era na época tomada com muita responsabilidade e, em caso de perda dos pais, eram os padrinhos que assumiam, com dignidade, a educação do afilhado. Djosinha passa assim do Monte Sossego para Ribeira Bote, onde fez a escola primária, aprendeu carpintaria e estudou música (bateria e clarinete) no Conservatório do Mindelo, com o professor José Alves Reis. Mas foi  o cinema que lhe transmitiu o gosto das viagens e aventuras pelo Mundo, fazendo-o sonhar com novos mundos e novas civilizações, onde o homem não seria julgado pela sua cor ou classe social, mas sim pelo seu talento. A morte dos cinemas de Mindelo (Eden Park e Miramar) foi uma ferida aberta no seu peito que nunca se cicatrizou.
Muito cedo começou a ganhar a vida como carpinteiro e nos fins de semana dedicava-se à música ao lado do grande músico Luis Morais, seu amigo-irmão de infância no Monte Sossego e, mais tarde, em casa de Nha Bernarda. Participava também nos grupos sociais e carnavalescos (como o Lombiano) e jogava futebol no Mindelense, seu club de coração, que sempre ajudou da diáspora, pagando  religosamente as suas quotas bem como fornecendo material desportivo.Quando um grupo de marinheiros do Porto Grande resolveu lançar um desafio político à potência colonial, através da emigração para Holanda, para se opôr ao caminho de São Tomé, a madrinha, Nha Bernarda, decidiu em 1962 financiar a sua viagem para a Holanda. Deixava atrás o ambiente festivo e turbulesco do Mindelo, com as suas festas e bailes de fim de semana, as célebres discusões de futebol e outras coisas da Praça Estrela. Depois de dois ou três anos na marinha mercante holandesa,  percorrendo o mundo  e em contacto diário com culturas e civilizações  diferentes que, dia a dia, muito enriqueceram a sua caboverdianidade, Djosinha interessou-se de novo pela música, estudando os novos compositores latino-americanos. Viajou pelo Brasil, onde frequentou vários cursos de formação profissional e instalou-se finalmente em Roterdão com um projecto de solidariedade no intuito de apoiar a emigração para a Holanda de amigos e familiares. É nesta persectiva que ele faz vir de Dakar Luís Morais e alguns dos seus companheiros sem, no entanto, ainda sonhar com a criação do conjunto “A Voz de Cabo Verde”.
Roterdão  recebia diariamente emigrantes caboverdianos de todas as ilhas e de todas as comunicdades cabo-verdianas espalhadas pelo mundo. E é neste aspecto  que os emigrantes mindelenses na Holanda, com os seus hotéis e conhecimentos do mundo, do mar e dos portos e com as suas caixas de solidariedade (que  quotizavam para casos de doença ou ajudavam os recém chegados, sem distinção de ilha ou região),  tiveram um papel fundamental na criação das estruturas para servir a emigração nesse país, bem como na transformação social, económica e cultural de Cabo Verde. Em nenhuma ilha, em nenhum vale ou ribeira de todas as ilhas, de Santo Antão à Brava, é possivel ignorar-se a presença da emigração caboverdiana para a Holanda.
A ida para a Holanda, a partir dos princípios dos anos sessenta, de grandes músicos e desportistas fez também ali aparecer grupos musicais e equipas desportivas. Djosinha de Bernarda estava em tudo, como antigo jogador de futebol do Club Sportivo Mindelense e como músico reconhecido na praça. O primeiro disco long-play de música caboverdiana teve como título “Os Caboverdianos na Holanda” e foi editado pela Casa Silva, que mais tarde se transformou em Morabeza Records. Djosonha também participou na formação do Conjunto A Voz de Cabo Verde, tanto a nível musical como financeiro, mas as responsabilidades familiares impediram-no de prosseguir uma carreira musical profissional.
Além disso, contribuiu para a formação do movimento associativo em Roterdão com destaque para as actividades culturais, onde esteve sempre activo e de forma benévola. E quando ia de férias a Cabo Verde era o grande animador das noites cabo-verdianas no bar  Calypso, pertencente a Ofélia Ramos,  e um dinâmico impulsionador do futebol no Club Sportivo Mindelense. Dizia-me sentir-se frustrado por não ter participado no disco “Mindelense! Mindelense!”, editado em  Paris pelos desportistas mindelenses em França. O mesmo disse um outro grande Mindelense, Bana.
Após a Independência quis fixar-se com a família em Cabo Verde. Mas o regresso prepara-se a longo prazo e em consertação com a família. Por outro lado, a Nação tem de ter uma política de reintegração dos seus emigrantes  o que ainda hoje está por fazer. Não poderia assegurar a educação dos filhos e a experiência de uma vivência num país democrático como a Holanda entrava em choque com o sistema de partido único. Para além disso, existia e existe ainda uma corrente de opinião anti-emigrante na pequena burguesia e, em especial, no seio dos funcionários públicos que afasta o emigrante da sua terra.Via com uma certa frustração o declínio da cidade do Porto Grande ao nível económico e cultural devido  ao egoísmo e ao silêncio comprometido dos nossos políticos e intelectuais, que só se preocupam com o seu bem estar, ignorando totalmente as aspirações do povo que tanto apostou nas lutas pela Independência e democracia. E, por isso, cedo aderiu à UCID e ao movimento para a Regionalização, na esperança de trazer um novo renascimento económico e cultural para  Cabo Verde e, em especial, para Mindelo e o seu Porto Grande.
É que os emigrantes, na sua maioria originários do mundo rural, consideram indispensável uma política coerente de investimentos que possibilite ao sector primário uma progressiva adaptação aos condicionalismos impostos pelo crescimento industrial. Em que medida se deve considerar válido o contributo dos emigrantes, vindos do meio rural, no desenvolvimento regional para a integração dos rurais (emigrantes) nas respectivas? Quais os meios a serem utilizados e como os utilizar? Ao proporem o desenvolvimento harmónico de Cabo Verde como objectivo a ter em vista nas áreas deprimidas ou ignoradas do país,  os emigrantes   associam-se imediatamente à ideia de Regionalização.  Pôr termo, através  de uma nova política económica e cultural  para o sector primário, ao despovoamento de certas zonas rurais, principalmente das ilhas agrícolas de onde partem os emigrantes (Santiago, Santo Antão, São Nicolau  e Fogo), vítimas do centralismo do Estado, constitui um dos  fundamentos da nossa luta para uma Regionalização humana e solidária.

Outra questão inquietante: como continuar Cabo Verde na emigração se não existe um projecto cultural para as diásporas  caboverdianas dispersas pelo mundo?  Será que não corremos o perigo de sermos assimilados e desparecer como Nação no mundo? Isto tem sido uma exigência em reuniôes e congressos dos emigrantes, mas infelizmente este sonho maior do emigrante continua por se realizar. Como diz Paulino Vieira, a tocatina não nos leva a nenhum lugar e por isso precisamos de uma política cultural para a emigração, graças ao ensino as línguas dos países da nossa emigração nos liceus e escolas técnicas, de centros culturais dos países de emigração nas várias ilhas de onde partem os emigrantes. Mas também necessitamos de centros culturais caboverdianos na diáspora, dirigidos por pessoas nomeadas por mérito e de formação de quadros para o movimento associativo que ultrapasse os limites da nossa solidariedade humana, imbuída  de novas práticas de associativismo baseadas na cultura e no desenvolvimento econónico de Cabo Verde.
Mas embora militante  da  UCID na clandestinidade, Djosinha regressava à terra de dois em dois anos com o seu clarinette para animar as noites caboverdianas, as festas de amigos e até os enterros,  sempre de forma benévola, mas também para abraçar os velhos amigos da Praça Estrela e do Mindelense.
Há mais de dez anos foi vítima de um primeiro ataque cardíaco e o médico recomendara-lhe que consultasse anualmente. Recuperado, retomou a sua participação nas noites culturais e esteve sempre presente nos enterros na Holanda e mesmo em França. Sentiu profundamente a morte de Luis Morais. A mulher e os amigos nunca o informaram da morte  de Manuel d’Novas, seu amigo e companheiro no Lombiano e nas noites caboverdianas na diáspora e em Cabo Verde.
Nos últimos tempos levava uma vida muito sã na companhia da mulher, Maria Alina, e dos filhos.  À noite frequentava a Casa Racionlista Cristã, presidida por Vitorino Chantre, figura importante da diáspora mindelense em Roterdão que, para além de professor de várias gerações da diáspora caboverdiana nessa cidade, tem sabido prodigar conselhos valerosos aos nossos emigrantes.
Em tempos, muito longe de imaginar a sua morte, um grupo de amigos criou uma comissão para lhe prestar uma justa homenagem em Roterdão e Paris. Mas veio a ser supreendido por um novo ataque cardíaco que revelou que a sua saúde estava bastante debilitada e que se houvesse mais uma outra crise cardíaca não escaparia da lei da morte. E foi o que aconteceu no dia  28 de Outubro de 2012 numa tarde de sol outonal em sua casa em Roterdão.Homem de duas pátrias, Cabo Verde e Holanda e como  racionalista cristão, nunca se preocupou com o lugar onde devia ser depositado o seu corpo após a morte. Para muitos amigos ele merecia um enterro nacional, não só como figura da cultura cabo-verdiana,  mas também como militante da emigração para a Holanda, tendo marcado a história de Cabo Verde em todas as suas lutas. Assim, foi uma decisão da família realizar o seu enterro em Roterdão, onde viveu quase cinquenta anos, deixando o seu nome marcado na história da comunidade caboverdiana de Roterdão.
Após o enterro, um grupo  constituído por Pedro Soares, Gilberto Andrade, Constantino Delgado, Sérgio Barros,  Gregório (Tchogoy), Marciano Teixeira (Dindim), João Morais, Calu de Monte Sossego, Zenaida Soares e Rolanda Correia constituiu  uma comissão organizadora  para se homenagear o amigo e o homem de cultura Djosinha de Bernarda, homenagem essa que teve lugar nos dias 9 de Maio (dia do seu aniversário) e 11 de Maio de 2013 em Roterdão. No acto muito concorrido, estiveram presentes amigos vindos de Portugal, Estados Unidos, França, Suécia e de outros países da Europa.  Nessa ocasião, na qualidade de amigo e compadre apresentei a sua biografia e Vitorino Chantre, representante do Centro Redentor do Brasil na Europa e amigo pessoal de Djosinha e familia, dissertou sobre o tema da amizade. Testemunharam também Orlando Medina e Baltasar Barros, vindos dos Estados Unidos, Quintino, vindo de Portugal, Xala Almeida, exímio do cavaquim e das noites caboverdianas, vindo da Suécia, e amigos residentes em Roterdão, como Pedro Soares (Piduca), Maguy Figueira, entre outros.  A parte musical foi muito participativa  com destaque para os cantores Nhô Balta, Jacqueline Fortes,   Xala, Luís Fortes,  Silvestre da Cruz, São Matos, Nelo do Fogo, Arlinda e Dudu, acompanhados por Xala, Zézinho, Quiqui (prodígio  do violino e da trompete), António Violão e João Morais.

 
 

Uma frase de grande profundidade marcou os presentes: cada um deve viver de forma a merecer um grande enterro,  seguido de uma   justa homenagem. É que a morte de um emigrante  interroga-nos profundamente sobre a nossa condição  exilar: morrer fora da terra em busca de Cabo Verde, como dizia Baltasar Lopes, ou seja daquele Cabo Verde que sonhamos construir com catchupa para todos, dignidade para todos acima de tudo e solidariedade fraternal entre os caboverdianos.  E a morte de alguém é sempre  uma oportunidade para  pensararmos na nossa caminhada e sentir a frustração de vir a morrer longe da nossa terra com o espelho de Cabo Verde à frente.
De entre os presentes nesta homenagem a Djosinha, muitos faziam parte do contingente que há mais de cinquenta anos, partiu foragido do Porto Grande ou em barcos portugueses, como o Quanza, atravessando os Pirenéus sob a vigilância da polícia portuguesa (PIDE), com a missão de libertar Cabo Verde das “as secas”, do caminho de São Tomé e da colonização portuguesa. Comemora-se tudo em Cabo Verde e ainda não houve ninguém que se tenha lembrado deste cinquentenário ou de condecorar os fundadores da comunidade caboverdiana de Roterdão, que tudo fizeram  para que essa emigração assumisse o seu dever histórico para com Cabo Verde e fosse admirada e respeitada na Holanda e no Mundo.
Djosinha foi mais um combatente da Pátria no meio do mar, no verdadeiro sentido do termo, aquele que tudo lhe deu e nada dela esperou. Regionalista  convicto, avesso a todas as manifestações bairristas, ali estavam patrícios de todas as ilhas a tesmtemunharem o seu respeito e a amizade por ele.A família agradeceu a organização e os presentes pelo sucesso da iniciativa. A organização promete anualmente realizar uma homenagem com actividades desportivas e culturais num espaço maior, onde se possa acolher a maioria dos amigos do Djosinha de Bernarda.

 


Luiz Silva

Roterdão e Paris, Junho de 2013

sábado, 15 de junho de 2013


Quando Augusto Neves é origem de uma tempestade num copo de água
 

Como vimos no meu artigo precedente, “Quando a problemática de S. Vicente está no centro da actualidade cabo-verdiana”, Hermes Silva Santos, deputado do PAICV por S. Vicente, reagiu com clarividência e sentido de responsabilidade política aos dados sobre o desemprego em S. Vicente, fenómeno que constitui a ponta do iceberg de uma difícil situação socioeconómica. Seguiram-se as declarações corajosas de Augusto Neves, e todo este cocktail causou celeuma no regime e fricção em alguma classe política, que preferem tapar a realidade com o manto diáfano da hipocrisia e atirar o lixo para debaixo do tapete, sempre que conveniente.

Convém, no entanto, lembrar que a atitude do autarca de S. Vicente não é inédita no historial das relações políticas entre a Câmara de S. Vicente e os governos centrais. Vem na continuidade de posições de idêntico cariz tomadas nas últimas décadas pelos seus antecessores, sempre que entenderam que os direitos legítimos da sua ilha estavam ameaçados e a população prejudicada. Quem se limita à análise casuística dos acontecimentos políticos pensa que tudo isto não passa de revivalismo político suscitado pela diferença político-partidária entre a Câmara e o Governo, mas é óbvia a simplicidade dessa visão, que só pode ser partilhada por aqueles que não conhecem a história desta ilha e a idiossincrasia do seu povo.

Com efeito, e como é do domínio público, o partido do governo recebeu mal as críticas de Augusto Neves, com o desconforto a acentuar-se ainda mais com a posição anteriormente assumida por Hermes Silva Santos. A reacção imediata terá sido tentar silenciar qualquer veleidade de efervescência interna criada pelo avolumar de vozes dissidentes ou menos manietadas de militantes locais do PAICV, com receio de que o debate sobre a situação de S. Vicente ou sobre a regionalização possa desencadear uma dinâmica perturbadora da linha ortodoxa e centralista do partido. É que, para o partido, torna-se suspeito tudo o que saia da retórica estafada e do discurso circular com que se procura justificar a realidade calamitosa da ilha de S. Vicente. O discurso oficial é, com efeito, sempre monocórdico, e o objecto da culpabilização invariável na identificação dos visados. Ou é a herança do passado colonial, ou é a incompetência das equipas que têm liderado a gestão do município, ou são os efeitos da crise internacional.

Porém, salta à vista, mesmo dos mais distraídos, que a responsabilização dos autarcas não teria lugar se eles pertencessem à família política do partido do governo, do mesmo modo que é inegável que a crise internacional, a ser de algum modo responsável, não explica a particularidade gravosa dos níveis de desemprego na ilha, que estão muito acima da média do país. O que é intolerável é um governo que está à frente do país há 13 anos consecutivamente pretender limpar-se de responsabilidades próprias quando sabe muito bem que as grandes decisões políticas na área económica não competem às câmaras municipais, ao contrário do que poderia ser num estado descentralizado e regionalizado. Mas terá o governo esquecido que ainda não regionalizou Cabo Verde e nem sequer quer abrir um debate?! Na realidade, se S. Vicente fosse uma região os poderes da ilha constituiriam num momento destes o bode expiatório perfeito. Quer se trate de Portugal, da França, dos E.U.A., ou de Cabo Verde, os falhanços ou os êxitos das políticas macroeconómicas (o desemprego é um indicador importante das políticas macro-económicas) são em larguíssima medida da responsabilidade quase exclusiva dos governos centrais e muito menos dos governos regionais (neste caso particular as políticas regionais podem ter efeitos atenuadores), das câmaras, das cidades-capitais ou das principais cidades, uma vez que eles estão, em geral, privados das principais competências e dos instrumentos de políticas globais ou macroeconómicas. Aqui nesta matéria, não há voltas a dar, nem magias que valham. E Cabo Verde, um país ultra-centralizado e de regime político dirigista, é que está longe de constituir uma excepção a essa regra. Mas este é o país paradisíaco para quem governa, onde os poderes podem imputar, à vontade e a seu bel-prazer, às câmaras da oposição o ónus das desgraças (ou melhor sacudir a água do capote) e nunca os benefícios dos êxitos.

Perante a inesperada reacção dos próceres do partido e também do governo, desresponsabilizando-se das suas políticas, atribuir à edilidade de S. Vicente toda a culpa pelo estado deplorável da ilha, só pode mexer com a capacidade de encaixe do mais cordato cidadão. Mas em Cabo Verde esta prática tende a ser corrente, pois, hélas, como diz o ditado, “em terra de cegos o zarolho é rei”.

As reacções da linha dura do partido tentaram contradizer a posição assumida pelo seu camarada, o deputado Hermes Silva Santos, e surpreenderam muito no tom e no modo utilizados nas diatribes destiladas contra Augusto Neves, de uma agressividade inconcebível, quando o mínimo que deles se esperava seria uma postura de “low profile”, tendo em conta que a situação de S. Vicente não se resolve deitando mais gasolina para a fogueira. Mas não, em vez de apaziguamento e sincero esforço de concertação em busca de soluções, primaram pela arrogância e pela agressividade próprias do “modus faciendi” do estado totalitário, demonstrando que o ADN formatador do antigo partido único continua intacto, aparentemente imune a qualquer reciclagem e influência dos tempos. É de acreditar que os políticos do PAICV que vieram a terreiro defender a sua dama foram orientados nesse sentido por um regime que se sente acossado pela realidade e cada vez mais incapaz de reconhecer o falhanço das suas políticas. É certo que o centralismo tem os seus fervorosos adeptos naqueles que abdicam da liberdade da sua consciência a troco de tachos e sinecuras ou que se comportam como cordeirinhos na expectativa de uma carreira futura à sombra da árvore do partido. E é por isso que quando os cordelinhos do poder central não são capazes de obstar a tentativas de concertação interpartidária com incidência local para a resolução dos problemas de S. Vicente, soa o alarme no centro do poder e mobilizam-se emissários para o ressarcimento da afronta à voz única do partido.

Contudo, a atitude do deputado Hermes Silva Santos, se outras virtudes não tivesse, veio demonstrar que a chama da consciência cívica mindelense não se apagou completamente. A todo o momento, a fogueira do inconformismo e da insatisfação pode atear-se e atingir proporções incontroláveis, porque se a resignação foi uma sina em tempos longínquos da nossa história, convém não esquecer que foi na ilha de S. Vicente que se arvorou a bandeira que haveria de conduzir o território à liberdade. Chegou o momento em que os representantes políticos de S. Vicente, todos eles, e independentemente da sua filiação partidária, têm de cerrar fileiras em torno dos problemas da sua ilha, não permitindo que os seus actos tenham como única lógica a estratégia empedernida de um poder central e centralizado. A margem de liberdade de consciência que um deputado se permite tem de ser caucionada pelo próprio antes da sua sujeição a qualquer directório superior, porque se não for assim perverte-se a virtude mais sublime que enforma a democracia como regime político: representar de corpo e alma quem nos confiou o seu voto. 

Tudo isto nos ocorre trazer a público porque as análises feitas pelos responsáveis do PAICV relativamente à situação económica de S. Vicente espelham o mundo surreal em que se vive hoje em Cabo Verde, onde a desconstrução ou a denegação do real e da verdade e dos factos é um exercício operado de ânimo leve e sem pudor. Dá a ideia de que Cabo Verde vive numa 4ª dimensão do real, ou mesmo no irreal, onde a mentira, a meia-verdade e os possíveis laivos de verdade se interpenetram para dar lugar à “verdade oficial”. Vive-se num quadro de dissolução de valores, em que a responsabilidade e a irresponsabilidade são as faces da mesma moeda de troca social, e o cinismo e a hipocrisia são os fermentos do caldo azedo de uma nova realidade, a do “homo politicus” cabo-verdiano, realidade que mata de morte matada a esperança que sempre alimentámos de ver um homem cabo-verdiano renascido de um passado de dor e sofrimento. Um homem capaz de compreender que os artifícios e malefícios da política feita arte de viver de alguns em vez de arte de bem servir, não podem ter assento numa terra como a nossa.

Infelizmente, os aspectos negativos da herança do partido único, que tomou o poder e nele se instalou, permanecem intactos e resistentes a qualquer mudança ou propósito de verdadeira renovação. Os tiques de autoritarismo e os sinais de controlo das vontades permanecem os mesmos do passado, e os vícios acumulados pela usura do poder crescem de dia para dia, de tal modo que o partido do poder não esconde o rosto do niilismo ético que o caracteriza nem disfarça a sua vocação natural para o autoritarismo. Cada ser humano tem as suas próprias convicções ideológicas, que são a pedra e o reboco do arsenal do político profissional, mas elas, as convicções, só constituem um valor positivo e instrumental se não forem sonegadas ou abafadas por lógicas de controlo político que se divorciam do espírito de servir a comunidade que é a sua única razão de ser. Ora, tanto o presidente Augusto Neves como o deputado Hermes Silva Santos (numa primeira abordagem) agiram segundo os ditames da sua consciência e no pleno uso da sua liberdade de opinião, mas tanto bastou para que fossem olhados de soslaio e criticados pelos seus directórios partidários. Eis algo que nos deve fazer reflectir para arrepiar caminho a tempo de resgatar a nossa democracia das garras perigosas que a ameaçam.    

domingo, 9 de junho de 2013


                Quando a problemática de S. Vicente está no centro da actualidade  cabo-verdiana

Imaginem quão longe estaria a economia cabo-verdiana caso os governos dos últimos 20 anos tivessem definido um novo paradigma político e económico para S. Vicente, e a ilha se tivesse descolado? Mas o que é que ganham os poderes na Praia com S. Vicente no estado em que está? Idem, para as outras ilhas. ‘Helas’, as políticas de desenvolvimento em relação a esta ilha têm-se resumido a puro calculismo e tacticismo partidário, com o único objectivo de desalojar os concorrentes do poder. Nenhum país se desenvolve assim!

No passado mês de Maio, houve desenvolvimentos de grande interesse em torno da situação da ilha de S. Vicente de Cabo Verde, e o debate sobre a Regionalização voltou a concitar as atenções gerais, entrando mesmo na agenda eleitoral do candidato à presidência do MpD. Diferentes órgãos de comunicação social focalizaram a inquietante problemática do desemprego em S. Vicente, e o facto é que ele parece imune a qualquer esconjuro, continuando a aumentar galopantemente.

Efectivamente, em matéria de desemprego, S. Vicente passou a liderar sobre o resto do arquipélago, situando-se neste momento, e conforme dados oficiais, nos 28,9%, sendo que 49,7% abrange pessoas com idades compreendidas entre os 15 e os 24 anos e 38,3% entre os 15 e os 34 anos, situação que revela indícios de iminente ruptura e agravamento de dramas sociais. Os números não surpreendem, porque a percepção desta realidade há muito que entrava pelos olhos dentro, tão iniludível era a situação de estagnação da ilha, assim como a falência das suas principais actividades e a ausência de perspectivas económicas. O desemprego e a pobreza constituem o rosto angustiante do triste cenário que a ilha apresenta desde há décadas, situação que foi sendo denunciada por muitos que nela vivem ou seguem a sua evolução. Mas estes números constituem na realidade um autêntico balde de água fria para o regime, e hoje são irrefutáveis mesmo no círculo dos seus apoiantes incondicionais, mormente entre alguns militantes e representantes parlamentares do PAICV de S. Vicente. Alguns dos que até agora defendiam com unhas e dentes a agenda de transformação daquele partido e faziam eco das suas virtudes e benefícios no desenvolvimento do país, hoje não têm outro remédio senão meter a viola no saco. Estranha-se é que em devido tempo não se tenha reconhecido que a decadência de S. Vicente era consequência directa das políticas económicas erradas implementadas no arquipélago nas últimas décadas, agravadas seriamente por um centralismo esquizofrénico. A ilha teve e continua a ter o seu futuro refém dos humores dos governantes, que se mantêm inabaláveis na sua convicção centralizadora, quase sempre fugindo ao cerne dos problemas com o recurso a expedientes dilatórios ou alardeando promessas cujo tempo de vida foi tão curto como o das campanhas eleitorais em que amealharam sorrateira e fraudulentamente o voto dos mindelenses. Esta política assassina priva a ilha de S. Vicente de uma liberdade fundamental, a económica, sem a qual se vê completamente emparedada para agir e resolver os seus problemas.  

Face à calamitosa situação do desemprego, Hermes Silva Santos, deputado do PAICV reagiu, e, num rasgo de clarividência, pareceu entrar em oposição, apontando o dedo ao governo do seu próprio partido, numa alusão clara ao “demasiado centralismo” da administração do Estado, manifestando preocupação pela situação socioeconómica da ilha, e sublinhando: “Verificamos que em alguns casos há de facto demasiado centralismo. Somos deputados da Nação, mas escolhemos manter a nossa residência em São Vicente, estamos aqui todos os dias, acompanhamos o dia-a-dia das pessoas e não podemos ser demagógicos a ponto de colocar o partido acima dos problemas da ilha. Afirmou ainda que “estão muito preocupados com a situação socioeconómica” e defendeu ser necessário que São Vicente beneficie de discriminação positiva para fazer face ao drama social que se vive na ilha, sustentando ainda ser necessária uma “forte parceria entre a Câmara Municipal, o governo central e os privados”, para acudir à situação de emergência, nomeadamente, para combater o desemprego e potenciar a canalização de investimentos na área social. Terá ele pronunciado estas afirmações com convicção ou serão apenas reacções oportunistas face aos sinais cada vez mais evidentes da degradação da ilha? Seja como for, estas declarações parecem em contradição com a postura deste e de outros deputados no debate parlamentar realizado em Maio sobre a situação de S. Vicente, como veremos em próximo artigo.

Neste sentido e no seguimento das declarações do deputado, o recente grito de alarme proferido por Augusto Neves é percebido como um sincero e corajoso desabafo da parte de um presidente de câmara, um ‘raz le bol’, como os franceses dizem, que desse modo fez eco público da indignação que neste momento perpassa todo o povo da sua ilha. Em conferência de imprensa, o edil de São Vicente acusou o executivo de José Maria Neves de gastar todo o Orçamento do Estado em proveito quase exclusivo do desenvolvimento de Santiago. “Este é um governo de Santiago", referiu com todas as letras, juntando a voz ao “coro” crescente que acusa o PAICV de ter instalado a “República de Santiago” e praticamente abandonando as outras ilhas à sua sorte. Pondo a nu o marasmo social galopante na ilha, mostrou sem tibieza que a sua Câmara não tem tecto orçamental para acudir à dramática situação, cuja resolução só pode ser cometida ao governo central, mediante uma distribuição mais justa e mais equitativa dos recursos nacionais.

A desassombrada atitude de Augusto Neves pôs assim o regime e alguma classe política em polvorosa, com o secretário-geral do PAICV a desferrar um fulgurante contra-ataque ao autarca, apodando-o de “bairrista e incompetente”, ao mesmo tempo que, intempestivamente, condenava a regionalização. Mas não estará a rir-se o roto do esfarrapado? Não será mais “bairrista” quem perpetua políticas discriminatórias e sufocantes contra uma ilha indefesa, quem promete estatutos especiais e outros benesses para uma ilha, mas nega com veemência qualquer possibilidade de autonomia para S. Vicente e outras ilhas, e a quer manter num estado de indigência política, e ainda por cima faz o mal e a caramunha fazendo uso de frases feitas sem sentido, mas deletérias nos seus efeitos? Se “bairrista” é quem defende o bem e o progresso do seu bairro ou de uma comunidade, então é bom sê-lo, porque representa uma atitude positiva e altruísta, tanto mais quando é uma reacção natural contra as políticas acima mencionadas. Para além de tudo a tomada de posição de Augusto Neves, que vem na linha da tradição contestatária dos mindelenses (umas vezes clandestinamente, outras abertamente) e de outros presidentes de câmara que o precederam, caiu bem e no bom momento. Foi um murro na mesa dado pelo presidente da câmara de S. Vicente. E terá que ser assim pois o poder parece só entender esta linguagem. Nelson Atanásio, Onésimo Silveira e Isaura Gomes foram dos que, nas últimas décadas, fizeram ouvir a sua voz sempre que entenderam que os direitos legítimos da sua ilha estavam a ser sugados pelo vórtice da política centralizadora. No dia em que os mindelenses silenciarem a sua indignação perante as situações de injustiça cometidas contra a sua ilha, então poderemos dizer que ‘Soncent já cabá na nada’. Perante tal estado de denegação do valor mais sublime da democracia, em que o presidente da câmara de S. Vicente se vê acossado pelos seus adversários políticos só por defender os interesses de quem lhe confiou o seu voto, só nos resta vir a terreiro e cerrar fileiras ao lado de Augusto Neves e gritar que os reis do país vão nus.

 Embora a política do centralismo económico e financeiro remonte à 1ª República, cuja  estreiteza política resultou na  concentração de  todos os activos na capital, o facto é que continua a não haver sinais de desejo de qualquer mudança por parte do governo, donde nos assiste toda a legitimidade para verberar um sistema político que é a origem inequívoca dos nossos males.  Vejamos à lupa alguns factos recentes relativamente à cooperação japonesa. O Expresso da Ilhas noticiou que o Governo nipónico anunciou um apoio financeiro a Cabo Verde destinado a vários projectos em áreas como a água, energia e o Cluster do Mar, com montantes superiores a 68 milhões de dólares. Ficamos também a saber que aquele país, até esta data, financiou vários projectos ligados à electrificação rural da ilha de Santiago, destacando-se entre os projectos em andamento o de melhoria das redes de transmissão e distribuição de energia e da Central Única da Praia, num total de  cerca de 4.448 biliões de ienes. Este número revela por si só a desajustada política de investimento nas ilhas, cujo critério é favorecer sempre, e em primeiro lugar, Santiago. Quando se tem em conta os números no conjunto dos investimentos na ilha, como o MCA, a construção da Cidade Administrativa, o Estututo Especial e várias outras centenas de projectos uni ou bilaterais visados, não há prova mais evidente  desta dura realidade do centralismo e da concentração financeira.  Se se extrapolar este detalhe para o conjunto macro-económico do país, compreende-se assim melhor as razões da decadência económica de S. Vicente e da estagnação das ilhas periféricas do país,  uma vez que, para além do  orçamento do Estado, elas não dispõem de fontes adicionais de receitas, pois, como vemos, a parte do leão do financiamento da cooperação reverte sempre para Santiago. É assim cada vez mais difícil tapar este sol com a peneira: só um modelo de regionalização bem concebido poderá corrigir as assimetrias económicas e financeiras criadas pelo centralismo.

 

          BILINGUISMO E OS DESAFIOS DO MUNDO GLOBAL

    


Este artigo, publicado em 2012 com o título A Importância da Língua nos Desafios do Mundo Global,  inserido na séria A Regionalização e o debate sobre o Crioulo, vem no seguimento do artigo A Situação e o Estatuto dos Crioulos de Cabo Verde, onde se debateu a importância da preservação do(s) crioulo(s) de Cabo Verde e a problemática da sua oficialização. Acho pertinente reeditá-lo dada a actualidade do tema Oficialização do Crioulo e Bilinguismo, que foi debatido no fórum parlamentar de 17 a 18 de Maio de 2013, e de recentes declarações sobre o assunto. Recorde-se que o Ministro da Cultura, Mário Lúcio Sousa, pronunciou-se no sentido da rápida oficialização do Crioulo de Cabo Verde assim como da sua futura padronização, escrita, e ensino. Este evento aparece num momento em que o debate sobre Regionalização ganhou uma nova dinâmica, com um enfoque nas questões da diversidade cultural em Cabo Verde, na medida em que o problema do Centralismo, Descentralismo e Regionalismo envolve, para além de questões de natureza económica, sobremaneira outras de ordem política e sócio-cultural. O discurso do Ministro da Cultura pareceu transportar-nos 40 anos ao passado, para o período revolucionário, da pré-independência, onde as palavras de ordem tinham um valor simbólico, e a língua portuguesa, hoje património da comunidade dos povos de Língua Oficial Portuguesa, era encarada numa óptica de um corpo estranho ao país, e em confronto com a integralidade dos valores cabo-verdianos. Se o termo Bilinguismo, que subentende a adopção simultânea do português e do Crioulo como línguas oficiais, não tivesse entrado para o léxico deste fórum, poderíamos concluir com estas afirmações políticas que estaríamos perante a proclamação de uma independência linguística, enterrando assim definitivamente o colonialismo português em Cabo Verde, erradicando a língua portuguesa do nosso convívio (palmas, abaixos, vivas etc). Teríamos entrado, ‘com uma perna às costas’, com a oficialização de um Crioulo Unificado e Uniformizado numa era de felicidade e prosperidade. Onde os proto-nacionalistas e os independentistas falharam, os novos ‘revolucionários de secretaria’ obteriam uma estrondosa vitória. Não deixa de ser paradoxal falar hoje em bilinguismo, realidade virtual nos dias de hoje em Cabo Verde (um país onde se deixou de cultivar nos jovens a necessidade de exprimir e falar bem línguas estrangeiras), quando todos sabemos que as mesmas pessoas que estão à frente do processo da oficialização defenderam no passado o monolinguismo ortodoxo puro e duro, e a adopção automática da versão do crioulo de Santiago ou de algo muito parecido, que segundo alguns ideólogos deveria naturalmente e por razões históricas impor-se, suplantando e absorvendo progressivamente todos os outros crioulos de Cabo Verde. Portanto, para quem tinha dúvidas elas avolumaram-se, pois a confusão dos propósitos desta revolução de secretaria é total, e mais uma vez confirma-se que a política é a arte da dissimulação. Ao tratar este assunto delicado e sensível, como é o da Língua, com uma imagética revolucionária, recheada de demagogia barata, mexendo na fibra nacionalista de um povo, convencendo-o de que esta operação se destina a resgatar a sua memória e a sua identidade, podemos ter entrado no domínio do irracional. Mas convenhamos, o período revolucionário já está terminado, passou há muito tempo e hoje vivemos num estado independente com uma democracia mais ou menos consolidada e que queremos tranquila e em paz consigo e com os seus valores fundamentais do país. Penso que questões sérias como a língua devem ser abordadas desapaixonadamente, com ponderação e muito profissionalismo, mesmo aquando se trata de uma abordagem política. Um discurso político que apresente a problemática do crioulo como uma guerra, uma confrontação de vida ou de morte com a língua portuguesa, é não somente politicamente desonesto como irresponsável, e portanto inaceitável, na medida em que o Crioulo não é uma língua de geração espontânea, ela se construiu em 500 anos ao lado do português, bebeu e continua bebendo nele. Se as premissas de políticas de valorização do crioulo (que deve ser extensível todas as sua versões e não a uma eleita) são válidas e consensuais, é precisamente o projecto e o processo da sua oficialização que levantam sérias dúvidas e reservas. Pois o busílis da situação é que nesta reforma ou revolução há gato escondido com rabo de fora, não estando em causa, a meu ver, a questão do binómio crioulo-português, na impossibilidade de erradicar a língua portuguesa, mas sim algo mais grave, havendo evidências notórias de intenções ultra-centralistas ou etno-centristas. Tratar-se-ia, sim, de decretar a morte de todas as versões do crioulo falado em Cabo Verde, aquilo que eufemisticamente denominam de padronização, através da adopção da versão eleita do crioulo ou de outra hipótese aberrante. Para quem defende a Descentralização e a Regionalização em Cabo Verde centralizar a língua corresponde a ultrapassar perigosamente o ‘Rubicon’. Na prática, não vislumbrando a viabilidade de decretar o desaparecimento das outras versões do crioulo cabo-verdiano ou de as assimilar (tira-se a um povo a sua língua e a sua cultura e ele desaparece), só restará o caminho da oficialização de todas. Mas uma coisa podemos afirmar, os chamados fundamentalistas, por razões óbvias estão ausentes do debate ou se opõe ao princípio da regionalização. Todavia considerando que este fenómeno é já hoje em Cabo Verde um facto, identificado e caracterizado como sendo uma forma de nacionalismo irredentor, é caso para perguntar se Santiago não enformará germes ou requisitos de um Estado-Nação dentro de Cabo Verde, o que nos leva a re-perspectivar sem complexos a questão da Regionalização na óptica de um federalismo Regional ou Insular assumido, uma situação em que cada Ilha-Região ou espaço Regional, e sobretudo Santiago, veria a expressão máxima da sua identidade plenamente reconhecida e concretizada, nomeadamente o seu crioulo, como alguns têm defendido recentemente, Lídio Silva e inclusivamente um natural e Santiago, e veterano da independência, Leitão da Graça.

 

 

Como vimos no artigo anterior, parece haver um propósito, mais ou menos disfarçado, de eliminar o bilinguismo em Cabo Verde erradicando paulatinamente dos nossos hábitos a língua portuguesa, que herdámos e com a qual convivemos durante quinhentos anos, substituindo-a por um crioulo oficial e padronizado em função do dialecto santiaguense e da assimilação progressiva dos outros crioulos, condenados assim ao desaparecimento.

    É provável que seja o inconsciente colectivo a aconselhar o refúgio no crioulo, pela constatação de que a maioria dos cabo-verdianos, inclusivamente as elites, demonstra notória dificuldade em se exprimir correntemente em português. Mas se tivermos em conta que antigamente o cenário linguístico era bem melhor, correspondente a uma situação de bilinguismo em que, todavia, o crioulo era largamente dominante, só se pode concluir que a causa principal da presente situação é a falência do sistema de ensino. Pretender-se, com uma reforma arrevesada, mascarar a resolução de um problema eminentemente técnico, é como tapar o sol com a peneira. Porém, o problema do domínio do português em Cabo Verde perseguirá eternamente os cabo-verdianos se ele não for atacado de raiz e resolvido definitivamente. Estou certo de que se a língua portuguesa for expulsa pela porta, ela retornará sub-repticiamente pelas janelas. Os especialistas linguísticos deveriam, por conseguinte, antes do salto no escuro, debruçar-se com muita seriedade e rigor sobre o problema do português em Cabo Verde, apresentando pistas e soluções para a sua resolução. A questão que se coloca e levanta dúvidas aos cépticos da metodologia seguida no processo da oficialização do crioulo, é se esta será mesmo uma solução, como apontam e advogam os “especialistas”, nos quais se incluem os chamados Fundamentalistas. Ou seja, a questão é saber se o mais conveniente é mesmo o retorno umbilical ao crioulo, como poção mágica para os problemas linguísticos bicudos de Cabo Verde, a contento dos que vêem a língua materna como o regaço para o sossego da sua inquietação identitária. Esta é uma dúvida fundamental.

           O(s) crioulo(s) de Cabo Verde conviveram naturalmente, ao longo dos quinhentos anos, com a língua portuguesa, de tal maneira que os laços umbilicais e o permanente vaivém entre as duas línguas foram e são a única e verdadeira fonte de enriquecimento do crioulo. A prova disso é o facto de mais de 90% do léxico de todos os crioulos cabo-verdianos terem origem portuguesa. Nunca o crioulo, nem mesmo durante os momentos mais altos da perseguição salazarista, esteve realmente ameaçado, pois, ao mesmo tempo que se alimenta do português, está fortemente enraizado nas diversas ilhas, com os seus diferentes cambiantes. Portanto, independentemente da questão da oficialização do crioulo, aproveitar a oportunidade para eliminar a língua portuguesa da convivência dos crioulos é tirar a estes o húmus onde crescem e florescem, é privá-los do único substrato linguístico capaz de lhes fornecer uma futura gramática e um léxico minimamente credíveis. Por conseguinte, é falso o argumento da necessidade da instauração imediata do monolinguismo em Cabo Verde para proteger o crioulo. A língua portuguesa é e será um elemento de referência estruturante e o tronco de onde emana a seiva vivificante do crioulo. Daí que seja essencial voltar a ensinar bem o português, investir fortemente nesta língua para que qualquer cidadão possa falá-la correcta e correntemente, assim como o faz o brasileiro, o angolano o moçambicano ou o santomense, que não parecem querer prescindir da herança linguística que receberam e é ponte disponível para ligação com o mundo. Fechar-se no crioulo e romper com a língua portuguesa só pode conduzir à atrofia do crioulo: o protecionismo nunca deu bons resultados. Infelizmente, muitos teóricos que advogam esta tese parecem convencidos de que o crioulo foi gerado espontaneamente, através de uma auto-criação, devendo portanto ser preservado numa espécie de éter.

   Na verdade, quem pode provar e garantir que a maioria dos cabo-verdianos, depois de uma atabalhoada e pretensa reforma/revolução, conseguirá exprimir-se integralmente em crioulo, como língua estruturada gramaticalmente e propiciadora de um raciocínio e discurso formal, coerente e abstracto, com vantagem em relação ao português? Como disponibilizar todo um acervo livresco, documental e bibliotecário convertido subitamente num suposto crioulo erudito e à altura das múltiplas exigências da literatura, da filosofia e das ciências? Será que de repente vai haver literatura abundante e generalizada em crioulo? Quem vai fazer todo este trabalho e com que meios e dinheiros? Que aliciantes verdadeiros levarão os cabo-verdianos a ganhar hábitos de leitura e escrita em língua restringida aos seus estreitos horizontes? Como correr o risco de lançar Cabo Verde numa experimentação linguística na ausência de respostas às inquietações acima referidas? Tenho, e como eu muitas pessoas, sérias dúvidas sobre esta matéria e assiste-nos todo o direito de as expor. Limitando-se até hoje à pura retórica política, nenhum “especialista”, nem o governo, nem os acérrimos defensores daquilo que chamam a oficialização do crioulo, até hoje responderam a qualquer das dúvidas aqui colocadas e a outras mais.

    Num país onde o fosso entre os ricos e os pobres aumenta de dia para dia, há uma elite a viver desafogadamente, pelo que a supressão oficial da língua portuguesa em nada a afectará, pois que continuará a cultivar-se com o acesso à literatura e aos meios multi-media sofisticados expressos naquele idioma e em outros, imediatamente disponíveis em casa ou via internet, enquanto o seu poder de compra lhe faculta ainda estágios e turismos linguísticos e a possibilidade de ver os seus filhos prosseguirem formações universitárias em vários países e em várias línguas estrangeiras. Portanto, uma sociedade dual e a duas velocidade estará em gestação, uma que domina o português e/ou línguas estrangeiras, e uma outra “indigenada”, confinada ao horizonte do crioulo, já que nem ao português terá acesso. Este é o cenário muito provável que a nova elite dominante oferece a um país que não pode dar-se ao luxo de experimentalismos e devaneios sem sentido.  

    A falácia da migração total para o crioulo fica ainda mais desmontada quando se verifica que as elites que dominam o português, ao exprimirem-se actualmente em crioulo, mais de 90 % dos termos são plagiados directamente do português erudito e artificialmente crioulizados, denunciando assim uma total impossibilidade de se abdicar da língua portuguesa. Para mais, não deixa de ser preocupante esta flagrante miopia estratégica que é rejeitar a língua portuguesa em Cabo Verde num momento em que se assiste à ascensão vertiginosa do Brasil como país emergente na economia global, depois de há muito se ter afirmado como a primeira potência regional na América do Sul. Só pode honrar e prestigiar a lusofonia ver o Brasil aspirar-se a uma potência global através da sua participação cada vez mais activa na política mundial, desde a sua inclusão no clube dos G-20 às suas pretensões a futuro membro permanente do Conselho de Segurança. Esta perspectiva brilhante para o Brasil eleva a língua portuguesa à condição de língua de trabalho num mundo globalizado, ganhando assim, e inesperadamente, vigor e importância. Não se pode esquecer também as grandes potencialidades económicas de Angola e de Moçambique e a sua crescente influência mundial. É neste contexto que são bem oportunas as seguintes e recentes declarações de duas figuras do mundo lusófono: Xanana Gusmão, ex-Presidente do Timor, ao jornal Correio da Manhã (1): “Temos orgulho em falar português. A Língua Portuguesa é um dos nossos grandes factores de independência e afirmação, neste contexto asiático e com vizinhos tão poderosos. Por isso, pretendemos reforçar o ensino do português”; Pedro Pires ex-Presidente Cabo Verde, ao jornal A Nação (2): “é necessário que exista um esforço da comunidade académica, da sociedade civil e dos governos dos países lusófonos para elevar o estatuto da língua portuguesa no campo da pesquisa. Para além de uma língua de cultura, o português deverá ser uma língua de tecnologia e caberá aos países mais avançados e mais populosos como Brasil, Portugal, Angola e Moçambique trabalharem para fazer da língua portuguesa uma língua de cultura, mas sobretudo uma língua de ciência e tecnologia. As investigações nos mais diversos domínios vão precisar de ser em língua portuguesa. É um esforço que deve ser feito”. É assim que, olhando o problema numa perspectiva global e de longo prazo, querer forçar os cabo-verdianos a numa experimentação aventureira afastando-os do bilinguismo só pode levar a concluir que quem dirige os destinos de Cabo Verde traz o passo desacertado com a realidade e a história.

    Cabo Verde, pela exiguidade do seu território e da sua população, pela inexistência de matéria-prima, pela sua débil economia e grande atraso tecnológico, e sobretudo devido à ausência, até hoje, de estratégias adequadas para o desenvolvimento, dificilmente encontrará uma ou várias das aplicações-chave para a passagem de um país totalmente dependente da ajuda internacional para a um país viável, e no melhor dos casos emergente. Uma aplicação-chave é o termo que define o conjunto de estratégias que fizeram o sucesso, outrora, do Ocidente, nomeadamente o mundo protestante impelido pela Revolução Científica, o Iluminismo e o Reformismo, e de que se aproveitam hoje os países ditos emergentes como a China, a Índia, Singapura, o Brasil, etc. É difícil definir as aplicações-chave determinantes para fazer migrar Cabo Verde do estatuto de um país subdesenvolvido para o de um país emergente. Este é o grande problema que tem desafiado os sucessivos governos dos últimos 35 anos. Problema cuja solução constituirá talvez uma utopia, segundo os mais pessimistas.

    Mas é bom que os cabo-verdianos o saibam e tirem as devidas ilações desta crise mundial, no sentido de que é necessária uma tomada de consciência da pesada responsabilidade que têm em cima dos seus ombros: terão que ser, efectivamente, os senhores dos seus próprios destinos, com todas as responsabilidades implícitas, assumindo todos os riscos e os proveitos da sua soberania. E isto implica necessariamente serem eles próprios a criar condições para a sustentação da sua economia. Não há lugar para os estados viverem eternamente da ajuda ou caridade internacional: os povos dos países em crise começaram a pensar egoistamente nos seus próprios problemas. Ou se encontra a solução para o desenvolvimento de Cabo Verde ou ele se inviabiliza como estado soberano. Esta é a dura realidade e o dilema que até mesmo estados desenvolvidos vêm já experimentando amargamente, como é o caso da Grécia, o que não deixa de ser um oportuno alerta para Cabo Verde. É também uma realidade para a qual os políticos deveriam sensibilizar o povo, invocando a seguinte máxima de um grande político mundial: “Não perguntes o que a tua pátria pode fazer por ti. Pergunta o que tu podes fazer por ela” (John Kennedy).

      Pois a questão que se coloca à economia cabo-verdiana imbrica directamente com a sobrevivência do país, à semelhança de muitos outros países incomparavelmente mais desenvolvidos, neste mundo de hoje que se revelou uma selva globalizada e planetária, que suscita interrogações sobre como se inserir e beneficiar de uma parte deste enorme bolo que é a economia mundial globalizada. Sendo de excluir sectores como agricultura ou indústria pesada, restam os serviços, sector que engloba vários subsectores, os tais nichos de mercado, altamente competitivos envolvendo mão-de-obra altamente especializada, assentes nas novas tecnologias, no saberes e na ciência. Assim, perante a carência de potencialidades mais exploráveis, o turismo, parece ser a área estratégica em que Cabo Verde deve continuar a apostar. Nesse sentido, uma estratégia de sucesso terá que assentar na formação dos jovens no domínio por excelência de línguas estrangeiras (inglês, francês, espanhol, mandarim, língua maioritária na China), expressão oral e escrita fluentes, assim como na elevação do nível cultural e intelectual e no melhor conhecimento do mundo, transformando cada jovem num potencial cidadão do mundo. Nesta perspectiva, o português em vez de relegado para condição de língua estrangeira, deverá, pelo contrário, merecer prioridade no investimento, por todas as razões anteriormente enunciadas e por ser suporte e alavanca imprescindível para a aprendizagem das línguas dominantes no mundo, nomeadamente o inglês: o futuro de Cabo Verde só pode-se construir num bilinguismo assumido politicamente e socialmente, num quadro em que os crioulos das diferentes ilhas viveriam em democracia e harmonia e evoluiriam livremente, sem intromissão política ou administrativa. Não é possível conceber Cabo Verde enclausurado num monolinguismo autoritário, onde imperaria um crioulo eleito. Por isso, condenar os jovens ao fecho umbilical no crioulo é condenar Cabo Verde ao isolamento ou uma espécie de provincianismo, representando uma marcha em sentido inverso ao movimento no mundo, um retrocesso sociológico e uma aventura desastrosa, danosa para qualquer estratégia de desenvolvimento. Para além disso, poderá saldar-se em perdas potenciais de competitividade económica, numa perspectiva de inserção de Cabo Verde no comércio mundial. Como fazer negócios com os outros quando se está limitado comunicacionalmente, não podendo compreender as outras línguas nem exprimir noutra língua senão no crioulo? Estas verdades de La Palisse deveriam nortear a visão das pessoas que dirigem qualquer país hoje, e no caso de Cabo Verde reveste-se de uma importância capital, a exigir bom senso em vez de voluntarismo pacóvio.

   É também importante que se perceba que, para além dos custos invisíveis e imateriais da implementação actual do crioulo que vêm sendo apontados, acrescem custos reais e aí ninguém talvez tenha feito as contas ou imaginado que elas se terão de fazer com rigor inadiável e imprescindível. Há um conjunto de implicações sérias que não podem deixar de ser colocadas no tratamento de uma questão em que só o máximo rigor, cuidado e seriedade devem pautar a conduta dos responsáveis políticos, não podendo haver amadorismo nem entusiasmos nacionalistas em matéria tão extremamente sensível como uma reforma/revolução linguística. Assim, deve-se de se perguntar quem vai pagar a monumental factura, que se prolongará pelo tempo fora, da erradicação da língua portuguesa e da conversão integral da vida do país num determinado crioulo oficial, a solução pelos vistos minimalista escolhida pelo regime. Toda a literatura e publicação disponíveis em português ou noutras línguas serão convertidas no crioulo? No final, será Portugal, a ex-potência colonial, que pagará ou ajudará a pagar o programa revolucionário de erradicação da língua portuguesa de Cabo Verde? Ou serão os outros, os parceiros, países amigos doadores, como por exemplo os EUA ou a China, a pagar os custos do aventureirismo? Ao excluir-se voluntariamente da lusofonia com a adopção do monolinguismo crioulo, Cabo Verde deixará de falar oficialmente o português, isolando-se da comunidade lusófona e ficando numa situação similar à da Guiné Equatorial, como país observador?

    As questões que precedem ainda não estão respondidas, mas em matéria de língua ou outros encargos de soberania, é irrealista, para não dizer patético, imaginar que a cooperação internacional ou algum país mecenas possam sempre assegurar as despesas de outrem que não se prendam com gritantes prioridades de desenvolvimento ou assistência humanitária. Sem querer ser adivinho da consciência alheia, a resposta que vier só poderá ser esta: “Quem quer luxo que o pague!”

    Espera-se que no debate sobre a relação língua portuguesa/Crioulo, Onésimo Silveira, um patriota no verdadeiro sentido da palavra, detentor de enorme prestígio intelectual, com experiência internacional e uma vivência cosmopolita, um dominador exímio do português e de línguas estrangeiras, continue a usar todo o seu capital de prestígio e uma pedagogia de bom senso para colocar as autoridades perante as suas responsabilidades. As tomadas de posição corajosas têm contribuído ao desbloqueio de debate sobre a Regionalização em Cabo Verde. Espera-se que não seja levado por um discurso politicamente correcto, consensual, mas que assuma as suas responsabilidades na defesa e preservação da herança cultural de Cabo Verde, ameaçada por tendências fundamentalistas, esconjurando estas três grandes ameaças: a eliminação dos crioulos maternos das ilhas periféricas à ilha capital; a erradicação do português em Cabo Verde; a eleição de um crioulo padrão artificialmente clonado e baseado no da ilha de Santiago. É preciso que outros cabo-verdianos, residentes e na diáspora, que possam opinar e reflectir sobre a problemática da língua, na multiplicidade das suas envolventes (culturais, sociais, políticas, económicas e internacionais), acordem e façam ouvir a sua voz, no sentido de contrariar soluções ditadas por impulsos primários e voluntaristas que só podem ter consequências irreversíveis e nefastas sobre o futuro de Cabo Verde. Que o Senhor Presidente da República, professor universitário e homem de cultura, sensível às questões regionais do país, zelador dos interesses estratégicos de Cabo Verde no mundo, jogue um papel de moderador junto das partes envolvidas no processo de oficialização do crioulo. 

    A suspensão imediata de todo o processo de oficialização do crioulo para uma posterior reflexão, pelo menos no quadro de um verdadeiro debate sobre a Regionalização, deve ser uma exigência, um imperativo nacional.

                                                                           José Fortes Lopes

Referencias: