Quo Vadis
Regionalização de Cabo Verde: PAICV e MPD entendem-se sobre uma Nova Proposta consensual?
(Um artigo de opinião)
Introdução
Neste artigo, em duas partes, opino sobre o
processo de Regionalização de Cabo Verde, de acordo com a última Proposta.
Exprimo aqui uma opinião pessoal, que não vincula mais ninguém, apesar de eu
pertencer ao Grupo de Reflexão para a Regionalização, mais especificamente, o
Grupo de Reflexão da Diáspora.
É preciso lembrar que a Regionalização está
inscrita na realidade cabo-verdiana. Com os descobrimentos os navegadores
portugueses dividiram o arquipélago em duas regiões naturais: as ilhas de
Barlavento, ou ilhas de onde sopra o vento e as ilhas de Sotavento, ou ilhas
para onde o vento se dirige. Para além de mais, existem regionalismos
climáticos no arquipélago de Cabo Verde: ilhas do sul com climas mais tropicais
e ilhas do norte mais temperadas, assim com ilhas áridas, com paisagens
desérticas. Dentro de uma mesma ilha, pode existir microclimas, áreas onde se
cultivam plantas mediterrânicas tais como a vinha (logo produz-se vinho), ou
com ‘florestas’ de pinheiro, invulgares para estas latitudes. Se inicialmente a
colonização das ilhas deu-se pelo Sul, com as ilhas de Santiago, Fogo e Brava a
serem as primeiras povoadas, já as outras ilhas do Norte, que foram povoadas
mais mais tarde, tiveram uma evolução sociológica e histórica bem diferente. S.
Vicente povoa-se muito recentemente e torna-se o paradigma do novo Cabo Verde,
que se abria ao Mundo, graças ao Porto-Grande do Mindelo e aos serviços de
apoio à frota britânica, assim como às centrais de telecomunicações
intercontinentais instalados na ilha. Em meados do século XIX a ilha torna-se
praticamente a nova capital cabo-verdiana que atrai populações de todas as
ilhas e do mundo, e distingue-se pelo seu cosmopolitismo. A partir deste novo
pólo vai nascer uma forte identidade na região norte do arquipélago, a que se
associa Barlavento, uma área de grande dinamismo sociocultural, ao passo que
Sotavento, com a pacata capital Praia, estagna-se até 1975, ano em que o PAIGC,
novo poder em Cabo Verde, decreta o fim da antiga realidade e o início de uma
nova. Traz com ele o conceito centralista de estado-nação de tipo continental,
que se opõe à natureza diversa, arquipelágica regional ou regionalizada.
Cria-se o novo paradigma de Cabo Verde no qual proíbe-se qualquer alusão ao
regionalismo. Os termos geográficos Barlavento e Sotavento são tabus e mesmo
banidos dos mapas oficiais. O debate abafado sobre o regionalismo, só reaparece
com a democracia e o fim do Regime de Partido Único em 1992. Todavia na altura
não havia uma ideia nem um conceito preciso daquilo que podia ser a
regionalização. De resto ainda hoje, mesmo nos círculos sociopolíticos os mais
eruditos, é confundida com municipalismo. Há mesmo quem nalguns sectores
liberais do MPD defenda, erradamente, que o problema da regionalização só surge
por razões do mau modelo de desenvolvimento, e que a aplicação em Cabo Verde de
uma receita liberal ou neoliberal, acabando de vez com a dependência do Estado,
mataria a questão regionalização.
Na realidade, o verdadeiro debate sobre a
Regionalização só começa à partir da primeira década de 2000, graças à
contribuição determinante de uma certa Diáspora esclarecida e progressista, na
qual me inscrevo. Só a partir desta data aparece em cima da mesa conceitos e
modelos diversos em debate: o modelo de Ilha Região e vários modelos de
agrupamento de ilhas, até mesmo a ideia de transformar Cabo Verde numa
federação de ilhas ou regiões soberanas. Em todo os casos ressurgem as duas
regiões naturais no arquipélago: Barlavento e Sotavento, havendo mesmo quem
defenda uma 3ª região, a região Centro, que deveria incluir as ilhas turísticas
integradas, Sal e Boavista, portanto com uma forte identidade económica.
Continua em (1ª parte- Da socializalização da Proposta
de Regionalização do Governo/MPD à socialização do PAICV à Regionalização)
20 de Maio de 2017
José Fortes Lopes
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